Silêncio
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Publicado originalmente no site do Rev. Misael, em 23/04/2012).
A vida seria insuportável sem o silêncio. O coração tumultuado precisa experimentar a tranquilidade proveniente da ausência de perturbações. Esse estado de pleno descanso é a base para diversos benefícios espirituais, emocionais e físicos.
Vivemos numa cultura de consumo, sendo escravos do tempo e da ansiedade. Não raro eu me pego lidando com dezenas de pensamentos simultâneos; o cérebro em atividade frenética, processando imagens e dados, tecendo análises, alinhavando argumentos e adiantando projetos. O coração a mil: correria; confusão; ausência de silêncio.
Isso me faz concluir que o silêncio não é apenas físico. Eu posso estar em plena tormenta, esmagado pelo tumulto, mesmo quando meus ouvidos não estão sendo incomodados com uma quantidade exagerada de decibéis. Existe um silêncio emocional e espiritual, que eu preciso aprender a cultivar: “Somente em Deus, ó minha alma, espera silenciosa” (Sl 62.1,5). No livro Vida em comunhão, Dietrich Bonhoeffer informa que traduzia Salmos 65.1 como “o silêncio em Sião é louvor a ti, ó Deus”.
O silêncio nos cultos, no templo físico, é um fenômeno cada vez mais raro. Silenciar é chato, produz agonia, aquela “coceirinha” na ponta do dedão do pé que me faz remexer os sapatos na hora da oração silenciosa prolongada. “Gostosos” são o barulho e ritmo (e quanto mais melhor), pois estes reproduzem melhor o estado ansioso dos corações não tratados pela graça.
O silêncio no templo espiritual, que é o nosso coração, carece de ser incentivado. Existe uma pedagogia da vontade em guardá-lo. Se você acha que é simples, tente por uma semana. Sozinho, busque silenciar todas as vozes e eliminar todas as inquietações. É fácil?
Lembro-me das profundas palavras do salmista:
Senhor, não é soberbo o meu coração, nem altivo o meu olhar; não ando à procura de grandes coisas, nem de coisas maravilhosas demais para mim. Pelo contrário, fiz calar e sossegar a minha alma; como a criança desmamada se aquieta nos braços de sua mãe, como essa criança é a minha alma para comigo. Espera, ó Israel, no Senhor, desde agora e para sempre. (Sl 131.1-3).
Silêncio, então, tem a ver com fé; com o acesso que temos a uma bênção desconhecida pela maioria das pessoas. Quando nos apropriamos disso, experimentamos a paz.